Opiário – Andras Atlason

Description

About Opiário

“And at last, all I want is faith, peace and not having such confusing sensations. May God put an end to this! Open the locks — and comedies in my soul may I hear no more!”. Opiário (Opiarium) is a poem written by Álvaro de Campos, a heteronym conceived by Portuguese poet Fernando Pessoa (1888-1935). It’s an intimate monologue in which a man reflects upon his own hopelessness. An obsessive traveler who finds in opium the comfort to evade his ultimate destiny while drifting through the most uncertain destinations. Notwithstanding the horror, what starts out as a radical resignation to life in a world of shadows ends up with a prayer and a promise. Andras Atlason attempts to paint this portrait in sound.

Released on the following formats:
Digitally on all major platforms (Spotify, Apple Music, etc.): https://bfan.link/opiario

Opiário

Words: Fernando Pessoa
Music: Andras Atlason

É antes do ópio que a minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh’alma!

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